domingo, setembro 28, 2014

O diabo veste Prada


Autor: Lauren Weisberger
Género:
Literatura Light
Idioma: Português

Páginas: 366
Editora:
Editorial Presença

Ano:
2003
ISBN: 978-972-2331944
Título original: The devil wears Prada
Tradução: Maria do Carmo Figueira
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O diabo veste Prada é a história de Andrea Sachs, 23 anos, rapariga certinha, cheia de sonhos e aspirações, cujo maior desejo é trabalhar numa das publicações que admira, escrevendo peças jornalísticas.
 
Num golpe de sorte, a recém-licenciada consegue rapidamente o seu primeiro trabalho: assistir Miranda Priestly ("A" editora de moda) na Runway ("A" revista de moda), «um emprego pelo qual um milhão de jovens mataria». Os RH avisam que Miranda tem fama de ser exigente, mas que Andrea não estranhe muito. Apesar de nunca ter lido a Runway nem nunca ter ouvido falar da sua chefe, a jovem está optimista e quando lhe dizem que quem desempenha a função com competência durante um ano, tem a oportunidade de trabalhar em praticamente qualquer revista ou jornal que queira, pois Miranda conhece toda a gente e todos a querem agradar, a moça dedica-se a 100%.
 
Andrea apercebe-se que o ano vai ser longo e complicado desde o primeiro dia, num ambiente hostil e fashion que não combina com ela e onde a maioria das pessoas respira moda e goza com os modelitos da protagonista. Miranda revela-se uma mulher inacessível, de rituais definidos e que não admite ser abordada. As suas assistentes têm de estar disponíveis 24 horas por dia e ser inventivas, desempenhando tudo o que é pedido sem questionar ou falhar, mesmo as coisas mais absurdas (e há umas quantas).
 
Andrea vai ser testada até ao limite num emprego que lhe exige uma dedicação total mas a que ela se entrega, convicta de que tudo valerá a pena; à sua volta, as relações humanas vão ficando em segundo plano, à medida que Andrea se rende às marcas, à moda e à arte do bem (a)parecer, acabando por aceitar como normal o que antes considerava estranho e colocando a chefe (e os seus muitos desejos e exigências) no centro do seu mundo. No final, vai ter de escolher o que quer, num livro que nunca deixa de ser ligeiro, mesmo quando aborda temas adultos.
 
Aquando do lançamento do livro, em 2003, toda a gente sabia (apesar da alteração de nomes) que a protagonista do livro era a própria autora, que a revista em causa era a Vogue americana e que a "cabra de serviço" era a icónica Anna Wintour. Isso não alterou a minha forma de ler o livro, mas garantiu publicidade à autora e seis meses na lista dos bestsellers.

Este é um dos raros casos em que o filme supera a história original. Isso deve-se em grande parte à excelente Meryl Streep como Miranda Priestly, que dá uma dimensão mais humana à vilã de serviço, afastando-a da caricatura do livro.

O diabo veste Prada é narrado por uma miúda num tom egocêntrico que acaba por se tornar aborrecido, tal a repetição de queixas e lamúrias a cada linha. Este livro nunca faria grande sentido para mim porque a minha entrada no mundo laboral não foi remotamente parecida, mas a forma de ser de Andrea acaba por se tornar irritantemente imatura e egoísta para qualquer um. No filme, Anne Hathaway é bem mais empática e a história é alterada de forma a ser mais plausível, já para não falar que permite ter uma maior percepção do peso da indústria da moda (e da competição feroz), passando a mensagem de uma forma mais inteligente que o livro.

Repito que é caso raro: prefiro o filme mil vezes.

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(mediano/razoável)

terça-feira, setembro 16, 2014

O silêncio dos inocentes


Autor: Thomas Harris
Género:
Policial/Thriller
Idioma: Português

Páginas: 306
Editora:
Editorial Notícias

Colecção: Made in USA
Ano:
2000
ISBN: 978-972-4610801
Título original: The silence of the lambs
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Sou fã de Hannibal Lecter desde a excelente adaptação a cinema de Jonathan Demme, que arrecadou cinco Óscares e deu a Anthony Hopkins o papel da sua carreira (a sua interpretação é perfeita e arrepiante).

Ultimamente, o meu gosto pela personagem foi aguçado pela incrível série de televisão Hannibal, e tive curiosidade em saber mais sobre a história e as personagens criados por Thomas Harris há mais de 30 anos (xiii, o tempo passa ligeiro). Como nunca tinha lido os livros, e a terceira temporada da série só chega no próximo ano, lancei-me à colecção.

O silêncio dos inocentes centra-se em Clarice Starling, a acabar o curso de agente do FBI, a quem é dada a oportunidade de entrevistar o Dr. Hannibal "Canibal" Lecter, um psicopata (e psiquiatra reconhecido) preso por assassinar e devorar as suas vítimas. A ideia é obter um conhecimento mais aprofundado dos assassinos em série, mas a peculiar colaboração entre ambos faz avançar o caso mais mediático do momento, o de Buffalo Bill, um homem que rapta e esfola as sua vítimas e cujos intentos são ainda desconhecidos.

Com a sua inteligência e franqueza, Starling conquista Lecter, que vê nela uma hipótese de sobreviver à prisão onde o encerraram para sempre. As cenas entre os dois são magnéticas e Buffalo Bill é um serial killer tão sinistro e calculado que só uma grande mente o apanharia (e com ajuda, claro). Neste livro, os mauzões ganham em tudo: carisma, inteligência, complexidade. É entusiasmante ir fazendo o puzzle a cada nova pista e revelação. 

Apesar de já ter visto o filme várias vezes, gostei bastante do livro e algumas partes foram surpreendentes q.b., porque há sempre omissões e alterações na adaptação a cinema. Foi giro verificar que uma das frases mais famosas do filme não foi tirada ipso verbo do livro: quando o infame Lecter diz que comeu o fígado de um censor «with some fava beans and a nice Chianti», numa das cenas-ícone do filme, no livro, o vinho é outro, é um Amarone.

O livro é muito bom e ganha com a adaptação a cinema, porque é impossível não imaginar Sir Anthony Hopkins, e é superior. Thomas Harris estava muito à frente do seu tempo e o livro tem uma astúcia e originalidade actuais e rivaliza com os melhores policiais das últimas décadas; Hannibal Lecter é dos melhores vilões de todos os tempos. Estou ansiosa pelos restantes livros.

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(muito bom)